terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Gesto : práticas e discursos | LIVRO

Desdobramento do processo de pesquisa e criação do projeto “100 gestos que marcaram o século XX”, da Cia Dani Lima (2011/2012), o livro “Gesto: práticas e discursos” conta com dez entrevistas com especialistas vindos de diferentes domínios - Isabelle Launay (História e Teoria da Dança), Benilton Bezerra (Psiquiatria e Psicanálise), Charles Feitosa (Filosofia), Luis Camillo Osório (Artes Visuais), Silvia Soter (Educação Somática/Dança), Tatiana Rocque (Filosofia da matemática), Massimo Canivacci (Antropologia), Antônio Nóbrega (Cultura popular – Dança e Música), Denilson Lopes (Comunicação e Cinema), Christine Greiner (Comunicação e Semiótica/ Dança) – a propósito das idéias de gesto em suas práticas e áreas de atuação. Patrocinada pelo Fundo de Apoio à Dança (FADA), da Prefeitura do Rio,  esta publicação, reúne ainda escritos e imagens do processo de criação e do espetáculo “100 gestos”, da Cia Dani Lima, assim como um ensaio fotográfico feito especialmente para o livro.
O que define um gesto? Onde ele começa? Quais as relações entre gesto, postura, atitude, intenção, pensamento, movimento, contexto, linguagem, comunicação?  Que gestos nos afetam? Que gestos nos formaram? Uma dança é sempre feita de gestos? O que podem os gestos revelar sobre as escolhas afetivas-estéticas-éticas-políticas dos corpos e  de suas danças ?


Tudo começou com o desejo de mapear  os 100 gestos que marcaram o século XX, na busca de descobrir novas perspectivas para decifrar as corporeidades contemporâneas e suas escolhas estéticas e políticas. Um desejo de criar uma espécie de ‘museu do gesto’, onde pudéssemos observar certos parâmetros de corpo sendo replicados e transformados de geração em geração. Com o apoio do Programa Petrobras de Manutenção a Grupos e Companhias de Dança, esse desejo se transformou em um vasto projeto de pesquisa  que se desdobrou em diversas atividades entre 2011 e 2012 – uma série de entrevistas, um grupo de estudos; aulas de corpo e ateliês de criação, espetáculos.
Na primeira etapa do projeto, que contou com a colaboração do dramaturgo e pesquisador francês Christophe Wavelet, no lugar de tentar responder essas perguntas, fizemos tábula rasa e começamos entrevistando especialistas de várias áreas que se relacionam de alguma forma com o gesto, indagando como cada um deles encontrou a questão do gesto em suas vidas e práticas profissionais. A riqueza destas entrevistas, em sua maioria aqui publicadas, abriu um vasto panorama de interpretação para o conceito de gesto, revelando novos pontos de vista e norteando nossas pesquisas coreográficas e dramatúrgicas. Com uma equipe de seis bailarinos, vindos de lugares e backgrounds distintos no campo da dança, mergulhamos no levantamento de vertiginosas listas de gestos, matéria prima da construção do espetáculo “100 gestos”, que estreou em Agosto de 2012 no Rio de Janeiro.
Mas o projeto não acabou ai. Sentimos a necessidade de partilhar publicamente o riquíssimo processo de pesquisa desse projeto, o que foi possível com o apoio do Fundo de Apoio à Dança (FADA), que patrocinou esta publicação, reunindo as entrevistas, escritos e imagens do processo de criação e do espetáculo final, e um ensaio fotográfico feito especialmente para este livro.
Sem ignorar que o gesto atravessa todos os domínios da comunicação humana, da política à moda, da filosofia à arquitetura, do cinema à psicanálise, o foco principal de nossa pesquisa sempre foi o corpo. Tentar decifrar na gênese do movimento o que se expressa como gesto. Buscar dar visibilidade  ao complexo emaranhado de memórias pessoais, aprendizado social e contaminações  que tecem a expressão de cada sujeito desde a mais tenra infância e que são uma forma de ser-corpo no mundo. Procurar desvendar universos gestuais particulares a partir das relações que o corpo tece com o peso, com o espaço, com o tempo, com o movimento, com os outros corpos, com o público, com a representação e etc, revelando que o movimento dançado é um discurso. Um corpo que dança revela a especificidade da performance que ele inicia, onde as informações que se processam nele se articulam e se dão a ver com todas as implicações políticas e sociais que lhe são implícitas, seja nas relações com o próprio movimento, seja nas relações que estabelece com a cena e com o contexto no qual está inserido. Nenhum gesto é inocente, nenhuma dança é “só estética”. Cada vez que colocamos um corpo dançando em cena afirmamos um projeto de mundo, dizemos com gestos o que é importante e o que não, o que merece ser apreciado, em que valores acreditamos, quais bandeiras defendemos, mesmo que inconscientemente. Cada projeto estético, por sua vez, não é independente do mundo que o cerca. Foi gestado nesse mundo e com ele dialoga, dando visibilidade a determinados parâmetros, dando voz ou calando algum discurso. E dessa forma colaborando na manutenção ou na transformação dos valores que o engendram. Todas estas relações são extremamente complexas e não devem ser simplificadas, como o fazem os manuais que interpretam os significados dos gestos como se eles não fossem estruturas abertas e plásticas, que se transformam e ganham novos sentidos de acordo com o contexto onde estão inseridos. Como decifrar o complexo emaranhado de memórias pessoais, aprendizado social, contaminações e interpretações que tecem a expressão física de cada sujeito? Não são muitas das nossas escolhas inconscientes e involuntárias, heranças adquiridas nas relações familiares e sócio-culturais, nas informações apreendidas e processadas ao longo da vida?
A aposta em um procedimento inventariante vertiginoso, tanto no processo de pesquisa e criação do espetáculo quanto aqui  no livro, optando por uma variedade de abordagens conceituais e universos gestuais,  é uma escolha. Fazendo minhas as palavras de Umberto Eco, em “A Vertigem das listas”:  Não são as listas e inventários uma “tentativa de dar conta da multiplicidade do mundo, apontando simultaneamente, para os códigos reconhecidos de classificação e para uma maneira particular de captar, por sob as diferenças nomeadas e previstas, os parentescos subterrâneos entre as coisas, suas semelhanças dispersas ? Ou num plano inversamente simétrico: captar, por sob as semelhanças  explícitas, as diferenças invisíveis entre os objetos repetidos de uma série?” E existem listas coerentes, que reúnem entidades com algum tipo de parentesco, e listas incongruentes, como a enciclopédia chinesa de Borges, que tanto nos inspirou na confecção dessa coleção de gestos, práticas e discursos, e na qual os animais se dividem em: “a) pertencentes ao imperador, b) embalsamados, c) domesticados, d) leitões, e) sereias, f) fabulosos, g) cães em liberdade, h) incluídos na presente classificação, i) que se agitam como loucos, j) inumeráveis, k) etcetera, m) que acabam de quebrar a bilha, n) que de longe parecem moscas". 
Dani lima

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

terça-feira, 10 de julho de 2012

quantos gestos?

macaco bate palma dragonball aquilo de que somos feitos dedo em riste modelo-manequim pisando na lua batman e robin esse samba que é misto de maracatu samba de preto velho samba de pretutu all that jazz quem são eles, soldado? carlitos beijo na boca oh lord won’t you buy me a mercedes benz se entrega corisco godzilla dançando valsa no colo do pai branca de neve oh yeah ai que preguiça duchamp oba! as panteras os panteras negras merci e bagouet street fighter os 7 samurais josephine baker oscarito abrir as pernas west side story e da montanha ouviu-se um grito blade runner a casa é o corpo vai tomar no cu cansada põe a mão na testa trisha brown geni guerra nas estrelas alegria alegria beat it de castigo com a cabeça baixa hair punho cerrado valha-me deus nossa senhora guernica bob fosse a um passo da eternidade elvis buscapé ciríaco life is a cabaret kung fu rebolabola jean-luc godard i love to love you baby cid charisse we want you merce cunningham axé escondendo o rosto com as mãos quem não se comunica se trumbica singing in the rain bang bang maysa no to the heroic no to the anti-heroic sexual healing pollock vira vira vira homem vira vira jerry lewis 2001 ring my bell amarcord freak le bumbum excalibur casablanca mary a feiticeira dalí cruzar os braços marylin paz e amor gogo boy alegria é a prova dos nove o sétimo selo dancing queen o povo unido jamais será vencido maracatu atômico tapinha nas costas serial killer queimar o soutien kill bill melodrama je t’aime moi non plus supercalifragilisticexpialidocious tocar fogo ao corpo querelle madonna she’s a maniac aperto de mão tom & jerry bruce lee i have a dream cazuza simone de beauvoir greve de fome rizoma super-homem john lennon rebelde sem causa bertold brecht satisfaction carla perez the show must go on o anjo azul maiakovski somewhere over the rainbow i’ve got to be a macho man scarlett o’hara i’ve got you under my skin venha para o mundo de malboro marta graham che hiroshima mon amour pelé heil! laban live long and prosper passear de mãos dadas on the road tico-tico no fubá she-ha my name is bond joão saldanha meu nome é gal rolando no chão wim embalos de sábado à noite nijinsky eu sei que eu sou bonita e gostosa queda e suspensão purple rain chupa-chupa magal psicose matinê arrastão forsythe bolero de ravel leila diniz ataque de pânico laranja mecânica doe a deer a female deer pin-ups sorrir rosas vogue só as cachorras as preparadas as popozudas o baile todo hang loose kate marrone mascar chicletes release it nunca houve mulher como gilda vietnã aurora king kong uma tigresa de unhas negras isadora cuspir no chão come on baby light my fire pina minha pele é de carnaval jules e jim meu coração é igual


segunda-feira, 9 de julho de 2012

em cartaz


Começou com o desejo de mapear 100 gestos que marcaram o século XX na busca de descobrir novas perspectivas para decifrar as corporeidades contemporâneas. Se organizou como um projeto de pesquisa  que tem se desdobrado em várias atividades nos últimos 2 anos - grupo de estudos; aulas de corpo e ateliês de pesquisa, livro, espetáculos e vídeos.
Sem ignorar que o gesto atravessa todos os domínios da comunicação humana, da política à moda, da filosofia à arquitetura, do cinema à psicanálise, o foco principal sempre foi o corpo. Decifrar na gênese do movimento o que se expressa como gesto. Dar visibilidade  ao complexo emaranhado de memórias pessoais, aprendizado social e contaminações  que tecem a expressão de cada sujeito.
Um projeto que levantou mais perguntas do que respostas. Onde começa um gesto? Que gestos nos formaram ? Que gestos nos afetam? Que gestos cada um escolheria para uma lista dos 100 mais significativos do século? O que um inventário de gestos pode revelar sobre as escolhas afetivas-estéticas-éticas-políticas dos corpos e  de suas danças?

domingo, 8 de julho de 2012

idéias/afetos para um futuro texto sobre o espetáculo 100 gestos

Queridas, Fiquei muito feliz de ter ido ao espetáculo. Achei muito muito bom. Penso em escrever sobre ele, mas o tempo aqui está preto até final de julho. Então, fiz um certo 'resumo poético doque quero escrever' e estou enviando para vocês. Tem a ver com que falei com carlinha ontem... Espero que dê para entender... De qualquer jeito, vai em forma de agradecimento. Voltarei, com certeza, antes do final da temporada. Parabéns,queridas... Aí vai: "idéias/afetos para um futuro texto sobre o espetáculo 100 gestos" Percepção – quase imediata, depois que começa o espetáculo - do meu próprio corpo de espectador, de que estou em um corpo: agora juntei as mãos embaixo do queixo, agora sentei melhor na cadeira, agora peguei a mão do meu companheiro; a presença – também quase imediata – de que havia espaço para mim, espectador , no espaço do espetáculo. Vazios – materiais (no cenário) ou simbólicos - que posso habitar. Vontade de levantar e fazer meus gestos – e olhar para eles – junto com aqueles que ali estavam também fazendo seus gestos. Repertórios/Hábitos gestuais/formação: o que fazer com nossa subjugação gestual, com esse corpo que ao mesmo tempo ‘somos nós’ e nos conforma e aprisiona? Com esse repertório que, junto com o corpo e em profunda relação com ele, é também repertório de afeto e pensamento? Ou afetuosamente olhar para ele, mantendo distância afetuosa. Não descartá-lo (impossível). Não incorporá-lo cegamente. Percebê-lo numa distância que é também aceitação (e não). Ou vê-lo bidimensionalmente: através das sombras projetadas ou das sombras dos corpos no escuro. Vê-lo como sombra e desenho no espaço. Distância aí também. Ou repetir esse repertório, numa repetição que desassossega os clichês pessoais (das técnicas, das mídias) e culturais (oriental ou brasileiro) e que nos leva – a nós, espectadores - do riso ao choro. E ainda há as questões de gênero: o que seriam movimentos de homem? Movimentos de mulher? Tatiana Motta Lima